'' Então a gente bebia o leite
e deixava o litro vazio... ''
Com dezessete filhos, alèm de Pixinguinha, Alfredo da Rocha Vianna e sua esposa Raimunda levavam vida apertada. Os mais velhos começavam a trabahar desde cedo, ajudando o pai, funcionàrio do Departamento Geral dos Telègrafos, a pagar o estudo dos mais novos, que iam para as melhores escolas. Alfredo da Rocha Vianna Filho foi contemplado com o colègio mantido pelo Mosteiro de São Bento, por onde mais tarde passariam, entre outros, Heitor Vila-lôbos, Noel Rosa e Lamartine Babo. Não criou problemas para a rigìda disciplina da escola. Gostava de ajudar missa, pela natural tendência à religiosidade. Nunca foi aluno brilhante; estudava sò para agradar os pais.
Na verdade, as primeiras letas ão atraìram tanto quanto as primeiras mùsicas ouvidas nas serenatas que o pai, flautista respeitado, promovia em casa. O menino ficava quieto num canto, escutando fascinado as polcas, valsas e lundus da moda. De repente alguèm se lembrava de que não era mais hora de criança estar acordada e o pequeno Alfredo era mandado para a cama. Contrariado, mas sem protestar, ele obedecia. e a Avò Edwiges, africana de nascimento, aprovava a conduta do neto com uma expressão carinhosa de seu dialeto natal : '' Pizindin '' ( Menino Bom ).
A molecada da vizinhança concordava com a velha Edwiges : Alfredo era batuta. Não jogava bem futebol, mas era um bamba para empinar papagaios e jogar bola de gude. mas, em vez de chamà-lo '' Pizindin '', preferia o apelido de '' Bexiguinha '', referência às marcas qua a varìola deixara no rosto do companheiro. '' Pizindin '' e Bexiguinha com o tempo se misturada, originando o '' Pixinguinha '', definitivamente consagrado em 1956, quando passou a designar uma rua do subùrbio carioca de Ramos, onde o mùsico morou durante 29 anos.
Alfredo Vianna Filho não nasceu na Rua Pixinguinha e nem sabe dizer com certeza qual foi aquela em que nasceu : Julga ter sido na Alfredo Reis ou na Gomes Serpa, inclinando-se por esta ùltima. Quanto a local e data ele não tem dùvidas: Foi na Piedade, a 23 de abril de 1898, dia de São Jorge, dia de Ogum.
Pixinguinha cresceu tocando Flautinha de fôlha imitações daquilo que ouvia na serenata dos grandes. Apurando o ouvido, o dedilhado e a criatividade, quando não conseguia reproduzir um som inventada outro que tambèm soasse bonito. Aos doze anos estava tão familiarizado com a mùsica que logo esgotou os conhecimentos de teoria musical de Cesar Borges Leitão ( vizinha de rua e colega de trabalho do velho Vianna ), que se limitava às lições de um velho mètodo de Francisco Manuel Silva.
Nessa època jà tocava razoàvelmente cavaquinho e bombardino, mas sonhava com a requinta, espècie de clarineta de sons agudos. mas por medida de economia - havia duas flautas em casa - e tambèm porque poderia ensinar algo do que sabia ao filho, o velho Alfredo Vianna iniciou Pixinguinha no instrumento que mais tarde dominaria como mestre.
As primeiras lições de flautas coincidiram com a mudança da famìlia para um casarão de outo quartos e quatro salas, na Rua Vista Alegre, logo apelidado de '' Pensão Vianna '', pous estava sempre cheia de gente, na maioria mùsicos convidados pelo velho Vianna.
Um dos frequentadores mais assìduos da '' Pensão '' era o Professor Irineu de Almeida, que logo se ensudiasmou com os progressos de Pixinguinha na flauta, levando-o, em 1911, para o grupo carnavalesco Filhas da jardineira. O novato estreou em grande estilo, participando de uma batalha de confetes na Avenida Cenral ( Hoje Rio Branco ). no mesmo compôs sua primeira musica : o chorinho Lata de Leite, dedicado aos companheiros que estripulias, que custumavam roubar o leite da posta das casas. No ano seguinte voltou ao carnaval como diretor de harmonia do Rancho Paladinos Japonêses.
Por: Jùlio Medaglia